4 de dezembro de 2016

Empoderar-se sem culpas e sem culpar e outro.

                                                             Clarice Fernandes

A mudança comportamental e algo que envolve o desejo de viver sem culpas e o reconhecimento  da necessidade de eliminar de nossa vida aquilo que nos faz mal.
Só conseguiremos fazer uma tomada de atitude quando compreendermos que há algo em nós que nos impede de traçar o caminho rumo à felicidade e a realização pessoal. O conformismo com uma realidade conflituosa nos impede de sentir necessidade de sair de nossa zona de conforto e enfrentarmos o que de verdade nos aflige.

Se queremos sentir a necessidade de mudança faz se necessário uma auto-observação desprovida de culpas para que possamos nos conhecer, a fim de encontrar respostas aos porquês de certas atitudes que temos. Só assim compreenderemos em quais situações permitimos que outros controlem nossas decisões e em que situações elas são frutos de respostas aos fatos passados vivenciados por nós.
É muito frequente, quando colocamos nosso observador interior em ação, percebermos que fatos do nosso passado causam padrões de comportamento e ou sentimentos no presente. Entretanto, quando nos apropriamos destes comportamentos e sentimentos de experiências vividas no passado podemos decidir o que faremos com eles, pois somos os responsáveis pela nossa felicidade.
Para Powell (1999, p.69),
Nada nem ninguém pode produzir um sentimento especifico em mim. Pessoa alguma ou coisa alguma pode provocar-me raiva, a não ser que haja raiva dentro de mim. Da mesma maneira, nenhuma outra pessoa, ou coisa, poderá tornar-me alegre, se não existir alegria dentro de mim. Outros poderão apenas estimular o que já possuo.
Sendo assim, somente um desejo de sincero de mudança nos alavancará para a busca de respostas em fatos passados para compreender o porquê de nossas reações presentes. Muitas vezes, nossas reações e sentimentos são lançados sobre os outros como se fossem culpados de nossos conflitos interiores. Projetamos no outro nossos fracassos sem retomar as rédeas de nossos sentimentos.
Ninguém nasce pronto neste universo. Assim como a pedra precisa ser polida para brilhar intensamente (vale lembrar que ela é “ferida” neste processo) algumas vezes, há necessidade de “colocarmos o dedo” em nossas feridas do passado para encontrar respostas aos nossos traumas do presente. É um processo doloroso, mas quando decidimos quais sentimentos desejamos sentir, certamente encontraremos forças para buscar caminhos que nos liberte e nos torne agentes de nosso destino.
Todos nós temos algo em nosso passado que nos incomoda e que  precisamos ser capazes de liberar. A motivação deve ser sempre a conquista de uma paz interior que  permita  nos mantermos no controle de nossas emoções, tornando-nos pessoas melhores e capazes de construir relações saudáveis com os outros.
Nossos comportamentos podem mudar...Depende só de nós o fortalecimento da força e da coragem na luta pela cura interior de nossas piores mazelas... Ou deixarmos que elas nos destruam um pouco a cada dia e nos tirem o que temos de melhor: as oportunidades de uma vida saudável, serena e feliz!


Referência
Powell, John. Decifrando o enigma do eu. Ed.2, Belo Horizonte: Crescer, 1999.

3 de dezembro de 2016

Passado: solução do presente



Estou lendo o livro Decifrando o enigma do eu, de John Powell. No capitulo III, ele faz referencia aos espelhos do passado. No livro, ele faz uma reflexão sobre as experiências infantis e o efeito delas na vida adulta. Em suas histórias ele relata fatos de infância que dominam o agir da vida adulta estabelecendo relação direta entre a decisão tomada hoje justificada na rede de experiência do passado.
Porém, no capitulo seguinte, o ponto relevante é exatamente a solução, isto é a apropriação. Quando falamos em apropriação, estamos falando em tomar posse de algo. Neste caso estamos falando em apropriação de sentimentos provocados pelas experiências vividas. Ao tomar posse de algo, somos nós quem decidimos o que fazer com o bem apropriado. Isto significa dizer que o que faremos com esse sentimento é decisão nossa e não de outro. Podemos até, usando nossas máscaras, dizer que determinadas tomadas de decisão estão relacionadas à ação/provocação alheia, porém quando nos apropriamos dos sentimentos provocados por fatos passados podemos escolher a reação que teremos: se com o ressentimento da criança indefesa do passado ou com o sentimento e razão do adulto que somos hoje e proprietários dessa história e que quer mudar o percurso de nossa vida.
Segundo Powell (1999), todas as minhas ações, reações e sentimento provêm de alguma coisa dentro de mim. Fiz então, uma reflexão sobre a minha história... Percebi o quanto não apropriei-me ainda dos meus próprios  sentimentos.
Um fato recente me veio a memória. Estive em conflito comigo mesma porque  minha mãe, aos setenta e oito anos de idade, foi diagnosticada com obstrução das carótidas e eu entrei em pânico. Projetei nela o meu medo de morrer sem assistência  e comecei uma tremenda campanha para que fosse agilizado um meio de mantê-la acompanhada o tempo todo. Ela fez uma resistência enorme em deixar sua residência  para ser cuidada embora compreenda que não pode mais ficar  sozinha. Sofre de uma depressão que, segundo os médicos, pode ser uma das causas da obstrução da carótida. Portou-se durante a sua vida inteira como uma criança que precisa de atenção e cuidados e seu desejo constante é que o mundo gire em torno de suas necessidades e vontades. Cresceu... Mas continua agindo como a criança que teve que, contra sua vontade no momento, ir morar com seus avos. Rebela-se contra qualquer ideia de que alguém tome decisão por ela. A convivência com ela, a escuta das suas historias, me permite entender a relação da história dela com a leitura do livro no momento. Sempre que pode ela relembra essa experiência vivida. Essas lembranças são constantes. Porém ela não se apropriou de fato destes sentimentos. Age ainda como a criança e não percebe, não avalia que suas exigências muitas vezes tolhem a possibilidade de escolhas de vida dos outros. É a “menininha ressentida” exigindo dos outros a atenção e carinho... O que isso tem a haver com esse texto? Minha mãe foi retirada da casa de seus pais ainda na infância. Embora tenha sido cuidada com extremo amor pelos avos, foi arrancada do seio familiar... A “menininha” não quer sair de sua casa. Ela afirma: “se me tirar de minha casa morro logo”, e na casa dos filhos “não aguento essa prisão!” Não é a prisão do agora, é o fato de ter sido obrigada a ficar num lar, que naquele momento, não foi escolha dela viver...
No entanto, tenho também exemplos de minha experiência pessoal. Esta é apenas uma das muitas outras experiências familiares com as quais eu poderia relacionar a leitura atual. Tenho cinquenta e dois anos... Aos dez tive que me adaptar a uma família diferente, pois queria estudar e a região onde minha família morava não me possibilitava continuar minha formação escolar. Fui morar em um lar onde o chefe de família era alcoólatra. Duas lições trouxe para a vida adulta dessa experiência: a primeira é o medo de que um membro familiar se torne alcoólatra. A aproximação com pessoas alcoólatras me remete ao fato de assistir essa pessoa agredir a esposa sem qualquer motivo. Fico sem ação quando tenho que me aproximar de pessoas alcoolizadas. É “a menininha” assustada em ação... Não me apropriei desse sentimento!
Por outro lado, a segunda lição é a facilidade que sempre tive de me adaptar ao novo, quando é questão de sobrevivência ou aperfeiçoamento. Era uma criança e sobrevivi ao sentimento de medo e desespero a cada final de dia sem saber como seria o entardecer, tive que me fortalecer e vencer o conflito... Sempre me lembro de que sou capaz de superar qualquer tempestade que a vida possa fazer atravessar meu caminho. É o adulto tomando as rédeas da própria vida!
A leitura continua... Do livro e de mim mesma...

Referência
Powell, John. Decifrando o enigma do eu. Ed.2, Belo Horizonte: Crescer, 1999.

29 de novembro de 2016

A influência do passado em nosso presente.



Diante de fatos passados normalmente guardamos somente a interpretação do fato porque a interpretação relaciona-se aos sentimentos os quais os fatos despertaram em nossa vida. De acordo com Powell,1999 ( p. 34-36), o passado se torna, então, o prólogo para os dias presentes e futuros de minha vida. Quando descubro algo em mim, acho difícil rastreá-lo até um evento ou interpretação passada.
A maturidade me fez avaliar o passado e buscar entender porque em muitos momentos tomei decisões cujas consequências me faz repensar, hoje, se tudo seria feito da mesma forma agora.
No entanto, percebo que a realidade do momento está enriquecida de fatos posteriores, sucessos e frustrações que me permitem julgar os fatos passados de forma diferente e muito mais clara, pois os resultados das escolhas já são, também, fatos reais. Por isso jamais posso mudar um passado. Entretanto, posso me utilizar do que já sei sobre mim e dos resultados obtidos para que as escolhas futuras excluam erros cujas consequências já sei quais são e assim, saber o que do passado deve permanece ou ser deletado.
Partindo disso, podemos deduzir que a afirmação de Powell,1999: na verdade, o meu ontem influencia fortemente o meu hoje (p.45) nos remete a interferência da experiência vivenciada nas escolhas atuais.
Não podemos olhar para o passado para trazer as dores vividas para o presente. Jamais seremos felizes se projetarmos o passado no presente e nos condenarmos pelos erros cometidos: nossos ou dos outros. A cada novo dia, novas perspectivas surgem. O passado deve ser a caixa de respostas e não razão de nossos problemas futuros.  Ele deve nos fazer entender porque assim somos e promover a necessidade de traçar novos caminhos para a felicidade...
 A volta ao passado é uma experiência que nos faz ter a mascara desvendada. Porque somos assim? Porque agimos assim? Isso leva a reflexão sobre o que nos levava a ter as atitudes que o uso dela nos permitia tomar. Porém, a retirada da máscara permite vislumbrar o quanto estávamos interferindo na vida dos outros devido aos nossos próprios medos, angustias e frustrações do passado. Ela resgata a necessidade de aprender a ouvir e respeitar as escolhas alheias. Ao mesmo tempo em que faz entender e repensar que não devemos forçar soluções aos problemas alheios. E, por outro lado entendermos o quanto o nosso passado pode interferir nas relações que temos no presente.
A manipulação do outro, utilizando de nossas máscaras, nos torna cruéis, pois o forçamos a tomar atitudes e ou praticar ações coagidos pela confiança que tem em nossas palavras e exemplos. Ao manipularmos o outro não lhe permitimos julgar o fato para que possa fazer suas escolhas por si. Assim o impedimos de crescer. Quando nos deixamos manipular, preferimos atribuir ao outro as consequências das ações praticadas isentamo-nos da responsabilidade pelas ações que praticamos.
As nossas redes de experiências do passado fazem verdadeiros “buracos” em nossas relações no presente porque assim como nós, o outro também tem passado interferindo em seu presente.
Somente o amor e o dialogo sem reservas será capaz de curar as sequelas produzidas pelo passado em nosso presente.

Referência
Powell, John. Decifrando o enigma do eu. Ed.2, Belo Horizonte: Crescer, 1999.


24 de setembro de 2016

Como livrar-se da depressão


         Clarice Fernandes
Muitas vezes ouvimos falar em depressão na atualidade. Que mal é este que tanto aflige os seres humanos? Quais sintomas são apresentados por aqueles acometidos pela doença? Como conviver com o depressivo? São muitas as perguntas para as quais não existem respostas prontas...
O depressivo se fecha numa bolha criada por ele mesmo. Com ele, nesta bolha, ele aprisiona seus medos, suas frustrações, suas angustias...  Romper o invólucro em que ele está não é assim tão fácil.
Para quem olha de fora, parece “frescura”, falta de determinação, de boa vontade de estar bem. O depressivo mergulha numa escuridão que o torna incapaz de ver as cores da vida. Não importa a paisagem, não importa o acolhimento de quem o rodeia, não importa a aflição daqueles que estão em sua volta. O mundo para ele parece resumir-se a sua condição de aprisionado aos fatos que despertaram o gatilho da depressão.
Para leigos observadores basta um psiquiatra e uma boa dose de antidepressivo e o problema está solucionado. Porém, quando se mergulha num mar de tristeza e angustias e, ainda se desconhece o gatilho que determinou o inicio da doença nenhuma porção mágica ou  farmacêutica dará resposta adequada. Pode fazer com que o doente se acalme, se aquiete... Entretanto essa calma não e fruto de seu “eu” libertado da dor que provocou a depressão.
Religiosos apontam o caminho da fé como respostas aos males causados pela doença. E, não questiono aqui o poder da oração. Mas como sair de tal labirinto, se quando se chega a um elevado nível depressivo, normalmente, é porque a fé já saiu pela porta há muito tempo.
Afirma-se também que o exercício físico pode ser um grande coadjuvante na cura. E certamente o é...
Todavia uma ajuda profissional de um bom ouvinte (psicólogo ou não) pode nos ajudar a aliviar o peso das dores que guardamos no mais fundo de nossa alma.
Livrar-se da depressão não é fácil... Precisa-se buscar a causa... Libertar-se da causa e reconstruir novas pontes... Novas relações, novos sonhos, novos recomeços.
Nada disso é possível sem  o nosso querer  ativado. A ativação depende da rede de relações que nos cerca. Se essa rede não estiver saudável a cura é complicada,  embora  não é impossível.
Depressivo é um ser sensível, que mesmo aprisionado ao sofrimento, não abandona o barco, pois não tem noção que, consigo, afunda aqueles que estão a sua volta.
Corajoso e forte é aquele que consegue olhar para si mesmo e apontar em que contribui para que o barco se afunde sem jogar a culpa no outro e esconder-se atrás das causas externas (no outro). O outro só nos domina enquanto deixamos que ele assim o faça. 
Reconhecer a parcela de participação no processo depressivo é o primeiro passa para libertar-se . O segundo é reconhecer-se como um ser que precisa de ajuda e aceitá-la e ou buscá-la onde quer que acreditamos  que possa estar...
O restante será consequentes lutas diárias  na busca por uma vida saudável..