Clarice Fernandes (01/05/2019)
Era
uma tarde de quarta-feira, e eu me deslocava de minha cidade até a casa de
minha mãe. Ela havia me pedido para
levar alguns suprimentos para sua cozinha, pois receberia visitas. Resolvi parar
numa cidade no meio do percurso a ser percorrido, pois sabia haver por lá um
mercado com carnes selecionadas das quais minha mãe gostava. Como eu já morara
na região há algum tempo não tive dúvidas de que a escolha seria assertiva.
Caminhei
pelos corredores escolhendo alguns produtos e cheguei ao açougue. Quando parei em
frente ao balcão ouvi alguém dizer meu nome em voz alta. Estranhei, pois fazia anos
que eu havia me mudado da cidade. Quem ainda se lembraria de mim? Afinal eu
estava totalmente diferente: aumentara a circunferência em muitos centímetros e
os cabelos ficaram com tons prateados pela idade...
Olhei
com mais atenção e sem titubear reconheci: o atendente era o pequeno menino que
tantas vezes eu abraçara na adolescência para acalmar quando se encontrava
revoltado e acompanhando os amigos na indisciplina em sala de aula. Eu era a
supervisora que “apagava a fogueira” quando os professores esgotavam a
paciência. Procurava ser firme e manter a autoridade, mas mantinha o principio
de que sempre deveria ouvir as duas partes: o docente e o discente para apaziguar
o conflito.
Por
vezes, na escola, eu o vi chorar a ausência de seu pai... Mas sempre tentando
fazê-lo entender que ele poderia escrever sua história pessoal de forma
diferente e mais humana...
O menino cresceu, agora era um pai de família. Contou-me que tinha uma filha adolescente e um filho ainda pequeno. Quis dividir comigo sua história e mostrou-me a foto de seus filhos...
O menino cresceu, agora era um pai de família. Contou-me que tinha uma filha adolescente e um filho ainda pequeno. Quis dividir comigo sua história e mostrou-me a foto de seus filhos...
E
nesse dia numa breve conversa, ele relatou: “fiz acompanhamento com uma psicóloga
durante muito tempo e ela me disse que eu deveria ter tido bons anjos na vida, porque eu tinha tudo
para dar errado na vida e não dei... Você, com certeza foi um deles. Aquela escola e seus profissionais foram a diferença: me tornaram uma pessoa melhor! Sou grato por vocês terem feito parte de minha vida”...
Eu
sou professora!
E
ainda tem governo que diz que a educação é doutrinadora...