11 de janeiro de 2018

Professores nunca morrem

                                                          Clarice Fernandes

Sou professora... Vivi as delicias de ver meninos e meninas, a quem conduzi os primeiros passos no mundo da leitura e escrita tornarem-se adultos. Acompanhei de longe a evolução, a transformação de alguns deles. A vida me faz, algumas vezes, cruzar com eles. E, de repente, vejo o passado, de forma mágica, voltar na lembrança os bons tempos.
Tempos em que éramos chamados de “tia” (vocábulo inaceitável por alguns colegas de profissão, pois diziam que aqueles pequenos não eram seus parentes).  
Tempos em que o professor era um líder respeitável a quem a comunidade entregava seus pequenos e tinham plena confiança de que seriam bem cuidados. Os pais não admitiam grosserias com aqueles a quem era atribuída a tarefa de transmitir o conhecimento sistematizado, mas carregado de amor. Ensinávamos o pouco que sabíamos e em troca recebíamos a responsabilidade de conduzir nossos pequenos pelo caminho da esperança de crer que os dias seriam melhores: cresceriam, formariam família e poderiam falar de si e contarem suas histórias, um dia, aos seus descendentes.  Não tinha a tecnologia atual... Porém recriávamos todos os dias as formas de despertar o interesse deles  pelas descobertas do mundo da leitura e escrita.
Alimentávamos os sonhos deles de que podiam construir um mundo melhor.
A vida nos distância daqueles abraços calorosos com que éramos presenteados a cada toque de alarme para começar ou encerrar o dia de aula. Lembro-me de que meus pequenos formavam fila para dar e receber um beijo. Esse ritual era sagrado para começar e concluir o dia exaustivo de trabalho deles... Tudo era copiado, poucas vezes podiamos reproduzir conteúdo. Não tínhamos sequer apostilas ou cartilhas... Era o tempo das copias em mimeografo a álcool. Mas dávamos conta do recado... Meu deus, sou dessa época (risos)!
Anos depois o que parece impossível acontece: reencontro duas eternas alunas (das décadas de 80 e 90)... Digo eternas porque por mais que me esforço, ainda vejo nelas as menininhas que corriam ao meu encontro todas as vezes que me viam...  Ah... Aqueles abraços apertados... Elas nem faziam ideia o bem que me  faziam. Que saudade!
Jamais pensei que morasse em alguns corações de uma forma tão doce... Que alguém fizesse questão de guardar um caderninho de alfabetização por tanto tempo... Ou de fazer parte de das suas memórias de forma tão afetuosa...
E no desenho da criança, que ela foi um dia, a demonstração de carinho que ainda mora em seu coração...
No trabalho de faculdade o agradecimento...
Deixamos de existir quando as pessoas não se lembram mais da gente...
Sandra e Fatima, vocês moram para sempre em meu coração também...