Muitas
vezes me deparei pensando na saudade daqueles que não estão mais neste plano. Entretanto,
só tomei consciência real da morte
quando perdi meu pai.
Já
havia perdido amigos e parentes de quem gostava, mas a ausência deles não me
causara tanta dor quanto a perda de meu pai. Embora entenda que o fato de ser meu pai já é motivo
suficiente para um sofrimento maior.
Por
outro lado, sempre ouvira meus amigos festejarem por um filho que sobreviveu a
um acidente, um pai ou mãe que venceu um câncer ou milagres recebidos de males
considerados incuráveis que haviam sido vencidos. Mas nem isso nunca me fez
refletir sobre a morte.
Foi
a morte de meu pai que me fez pensar na passagem desta vida para a outra
dimensão. De alguma forma acreditava que ele viveria eternamente. Na verdade
não admitia que ele partiria tão cedo. Um AVC o derrubou por longos meses acamado.
Eu o via morrer aos poucos. E não me
refiro a morte física quando a alma se separa do corpo. Faço referência ao seu
corpo que a cada dia o limitava de fazer
as atividades costumeiras. Queria acreditar que ele voltaria a ser aquele homem
forte que sempre fora. Durante sua convalescença via que ele se abatia e desistia da vida.
Havíamos
ficado felizes quando ele sobreviveu ao AVC isquêmico (uma determinada artéria
cerebral sofre um "entupimento" e ocorre um déficit neurológico)
embora o médico nos avisasse que ficariam sequelas. A doença
deixou marcas irreversíveis das quais ele jamais se reabilitou: pequena dificuldade
na fala, lapsos de memória e ausência total de sensibilidade do lado esquerdo. Eu o
acompanhara durante todo o tempo em que convalesceu. Vê-lo se definhando a cada
dia foi uma das experiências mais doloridas pela qual já passei. Muitas vezes o
ouvia dizer que a vida não mais valia a pena. E eu sabia o quanto ele sofria
por ter que expor-se a cuidados diários por outras pessoas: precisava ser
alimentado, carregado, e diariamente tal qual uma criança receber cuidados
higiênicos de filhos e enfermeiros ( coisa que ele confessava sentir-se constrangido).
Ver
as limitações dele me fez refletir a ideia de que não somos
eternos, porém nos recusamos a pensar na morte (momento em que a alma abandona o corpo físico). Vê-lo partir me fez perceber que nenhum ser humano vence a morte ,
nenhuma cura vence a morte! O máximo que se pode fazer é prolongar a vida por
mais um tempo. Assim como não exista dinheiro que vença a morte, ele apenas pode oferecer
mais conforto para esperar sua chegada!
Não somos eternos como vivemos pensando ser.
E se não compreendermos isso, viveremos esperando a hora certa para fazermos o
certo para sermos felizes. A espera consumira nossa vida. Deixaremos de ser e
fazer felizes aqueles que amamos durante a vida. Vida essa que não
vem com “carimbo de prazo de validade”.