24 de fevereiro de 2015

Como superar a morte.

Muitas vezes me deparei pensando na saudade daqueles que não estão mais neste plano. Entretanto, só tomei  consciência real da morte quando perdi meu pai.
Já havia perdido amigos e parentes de quem gostava, mas a ausência deles não me causara tanta dor quanto a perda de meu pai.  Embora entenda que o fato de ser meu pai já é motivo suficiente  para um sofrimento maior.
Por outro lado, sempre ouvira meus amigos festejarem por um filho que sobreviveu a um acidente, um pai ou mãe que venceu um câncer ou milagres recebidos de males considerados incuráveis que haviam sido vencidos. Mas nem isso nunca me fez refletir sobre a morte.
Foi a morte de meu pai que me fez pensar na passagem desta vida para a outra dimensão. De alguma forma acreditava que ele viveria eternamente. Na verdade não admitia que ele partiria tão cedo. Um AVC o derrubou por longos   meses acamado. Eu o via morrer aos  poucos. E não me refiro a morte física quando a alma se separa do corpo. Faço referência ao seu corpo que a cada dia o limitava  de fazer as atividades costumeiras. Queria acreditar que ele voltaria a ser aquele homem forte que sempre fora. Durante sua convalescença  via que ele se  abatia  e desistia da vida.
Havíamos ficado felizes quando ele sobreviveu ao AVC isquêmico (uma determinada artéria cerebral sofre um "entupimento" e ocorre um déficit neurológico) embora o médico nos avisasse que ficariam sequelas. A doença deixou marcas irreversíveis das quais ele jamais se reabilitou: pequena dificuldade na fala, lapsos de memória e ausência total de sensibilidade do lado esquerdo. Eu o acompanhara durante todo o tempo em que convalesceu. Vê-lo se definhando a cada dia foi uma das experiências mais doloridas pela qual já passei. Muitas vezes o ouvia dizer que a vida não mais valia a pena. E eu sabia o quanto ele sofria por ter que expor-se a cuidados diários por outras pessoas: precisava ser alimentado, carregado, e diariamente tal qual uma criança receber cuidados higiênicos de filhos e enfermeiros ( coisa que ele confessava sentir-se constrangido).
Ver as limitações dele me fez refletir a ideia de que  não somos eternos, porém nos recusamos a pensar na morte (momento em que  a alma abandona o corpo físico). Vê-lo partir me fez perceber que nenhum ser humano vence a morte , nenhuma cura vence a morte! O máximo que se pode fazer é prolongar a vida por mais um tempo. Assim como não exista dinheiro que vença a morte, ele apenas pode oferecer mais conforto para esperar sua chegada! 

 Não somos eternos como vivemos pensando ser. E se não compreendermos isso, viveremos esperando a hora certa para fazermos o certo para sermos felizes. A espera consumira nossa vida. Deixaremos de ser e fazer felizes aqueles que amamos durante a vida. Vida essa  que  não vem com “carimbo de prazo de validade”.