7 de agosto de 2015

Autonomia & Aposentadoria



A palavra autonomia (grego autonomía, liberdade para usar leis próprias, independência) apresenta vários significados, entre eles, independência administrativa em relação a um poder central e liberdade moral ou intelectual. 
Na adolescência me incomodava a tal da dependência e falta de autonomia. Literalmente, eu era dependente do pai, não tinha trabalho e era um ser que resultou dos valores morais da rede a que pertencia: família, escola e religião, consequentemente, liberdade atrelada ao que os outros determinavam, me ensinavam ou doutrinavam.
Cresci acreditando que tudo ficaria mais tranquilo quando eu tivesse “autonomia”. Tornei "independente" cortando caminhos. Como todo ser humano precoce, comecei a trabalhar aos quatorze anos e casei aos dezesseis, ação que me emancipou legalmente. E aqui não quero debater as questões  relacionadas aos direitos legais a que eu deveria ter o direito de usufruir com liberdade! O que daria um bom texto argumentativo.
Casada era submissa ao marido. Separada submissa ao julgamento alheio. Empregada submissa ao compromisso com o trabalho e ao relógio. Alias escrava do relógio! Liberdade...
Nos últimos meses, comecei a pensar o quanto eu era autônoma...
E, acredite, descobri que nunca fora realmente emancipada ou autônoma em plenitude!
Veio a aposentadoria, porém, antes dela uma terrível depressão acompanhada de uma crise de pânico. Travei uma batalha para livrar-me de psiquiatra, psicólogo, antidepressivo e as terríveis humilhações durante as perícias médicas. E a cada dia me perguntava: quando serei realmente livre. Vivi muitas experiências profissionais gratificantes! Mas também tive momentos em que desejei não ter conhecimento para enxergar situações em que o estado se omitia de suas responsabilidades, por mais que eu tentasse dar respostas às necessidades apontadas pelo cotidiano do trabalho, o que me levou a desenvolver a depressão. 
O psicólogo trabalhou comigo a hipótese de que eu estava vivendo o luto de uma fase que se encerrava e o medo do novo que estava por vir. Não posso culpá-lo por isso. Não falava com ele sobre as minhas frustrações  durante o exercício da profissão. Não sei dizer se ele tinha razão. Parei de ir às consultas periódicas.  A psiquiatra, um ser humano de extrema sensibilidade me orientou para afastar-me da rotina do trabalho e, assim que pudesse, solicitasse a aposentadoria uma vez que eu preenchia os requisitos necessários para tal, ainda que relutasse em parar as minhas atividades. Confiei nela e  assim o fiz... Confesso que  se não fosse a ajuda de ambos não teria superado a fase.
 Foi diante das crises que descobri minha incansável busca pela autonomia que nunca tivera. Nem em relação à vida pessoal, nem profissional. E muito menos enquanto cidadã! 
Agora,  aposentada, feliz e quase livre da ansiedade,  vivo as limitações impostas  pelo  desgaste da "experiência"... Nunca seremos totalmente autônomos, nem mesmo com aposentadoria. Ela apenas nos liberta do relógio, dos compromissos e responsabilidade com o trabalho...  Permite-nos afastarmos das situações estressantes dos afazeres rotineiros da ocupação profissional. No entanto, para algumas pessoas cria o vazio, a solidão o abandono de nossos pares...
Embora ela nos proporcione uma possibilidade de aventurar-se mais, ter uma liberdade de ir e vir sem a culpa de ter deixado algo sem fazer.