Diante
de fatos passados normalmente guardamos somente a interpretação do fato porque
a interpretação relaciona-se aos sentimentos os quais os fatos despertaram em
nossa vida. De acordo com Powell,1999 ( p. 34-36), o passado se torna, então, o
prólogo para os dias presentes e futuros de minha vida. Quando descubro algo em
mim, acho difícil rastreá-lo até um evento ou interpretação passada.
A
maturidade me fez avaliar o passado e buscar entender porque em muitos momentos
tomei decisões cujas consequências me faz repensar, hoje, se tudo seria feito
da mesma forma agora.
No
entanto, percebo que a realidade do momento está enriquecida de fatos
posteriores, sucessos e frustrações que me permitem julgar os fatos passados de
forma diferente e muito mais clara, pois os resultados das escolhas já são,
também, fatos reais. Por isso jamais posso mudar um passado. Entretanto, posso
me utilizar do que já sei sobre mim e dos resultados obtidos para que as
escolhas futuras excluam erros cujas consequências já sei quais são e assim,
saber o que do passado deve permanece ou ser deletado.
Partindo
disso, podemos deduzir que a afirmação de Powell,1999: na verdade, o meu ontem
influencia fortemente o meu hoje (p.45) nos remete a interferência da
experiência vivenciada nas escolhas atuais.
Não
podemos olhar para o passado para trazer as dores vividas para o presente.
Jamais seremos felizes se projetarmos o passado no presente e nos condenarmos
pelos erros cometidos: nossos ou dos outros. A cada novo dia, novas
perspectivas surgem. O passado deve ser a caixa de respostas e não razão de
nossos problemas futuros. Ele deve nos
fazer entender porque assim somos e promover a necessidade de traçar novos
caminhos para a felicidade...
A
volta ao passado é uma experiência que nos faz ter a mascara desvendada. Porque
somos assim? Porque agimos assim? Isso leva a reflexão sobre o que nos levava a
ter as atitudes que o uso dela nos permitia tomar. Porém, a retirada da máscara
permite vislumbrar o quanto estávamos interferindo na vida dos outros devido
aos nossos próprios medos, angustias e frustrações do passado. Ela resgata a
necessidade de aprender a ouvir e respeitar as escolhas alheias. Ao mesmo tempo
em que faz entender e repensar que não devemos forçar soluções aos problemas
alheios. E, por outro lado entendermos o quanto o nosso passado pode interferir
nas relações que temos no presente.
A
manipulação do outro, utilizando de nossas máscaras, nos torna cruéis, pois o
forçamos a tomar atitudes e ou praticar ações coagidos pela confiança que tem
em nossas palavras e exemplos. Ao manipularmos o outro não lhe permitimos
julgar o fato para que possa fazer suas escolhas por si. Assim o impedimos de
crescer. Quando nos deixamos manipular, preferimos atribuir ao outro as
consequências das ações praticadas isentamo-nos da responsabilidade pelas ações
que praticamos.
As
nossas redes de experiências do passado fazem verdadeiros “buracos” em nossas relações
no presente porque assim como nós, o outro também tem passado interferindo em
seu presente.
Somente
o amor e o dialogo sem reservas será capaz de curar as sequelas produzidas pelo
passado em nosso presente.
Powell, John. Decifrando o enigma do eu. Ed.2, Belo Horizonte: Crescer, 1999.