Sou
professora... Vivi as delicias de ver meninos e meninas, a quem conduzi os
primeiros passos no mundo da leitura e escrita tornarem-se adultos. Acompanhei
de longe a evolução, a transformação de alguns deles. A vida me faz, algumas
vezes, cruzar com eles. E, de repente, vejo o passado, de forma mágica, voltar na
lembrança os bons tempos.
Tempos
em que éramos chamados de “tia” (vocábulo inaceitável por alguns colegas de
profissão, pois diziam que aqueles pequenos não eram seus parentes).
Tempos
em que o professor era um líder respeitável a quem a comunidade entregava seus
pequenos e tinham plena confiança de que seriam bem cuidados. Os pais não
admitiam grosserias com aqueles a quem era atribuída a tarefa de transmitir o
conhecimento sistematizado, mas carregado de amor. Ensinávamos
o pouco que sabíamos e em troca recebíamos a responsabilidade de conduzir nossos
pequenos pelo caminho da esperança de crer que os dias seriam melhores:
cresceriam, formariam família e poderiam falar de si e contarem suas histórias,
um dia, aos seus descendentes. Não tinha
a tecnologia atual... Porém recriávamos todos os dias as formas de despertar o
interesse deles pelas descobertas do mundo da leitura e escrita.
Alimentávamos
os sonhos deles de que podiam construir um mundo melhor.
A
vida nos distância daqueles abraços calorosos com que éramos presenteados a
cada toque de alarme para começar ou encerrar o dia de aula. Lembro-me de que
meus pequenos formavam fila para dar e receber um beijo. Esse ritual era
sagrado para começar e concluir o dia exaustivo de trabalho deles... Tudo era
copiado, poucas vezes podiamos reproduzir conteúdo. Não tínhamos sequer apostilas
ou cartilhas... Era o tempo das copias em mimeografo a álcool. Mas dávamos
conta do recado... Meu deus, sou dessa época (risos)!
Anos
depois o que parece impossível acontece: reencontro duas eternas alunas (das
décadas de 80 e 90)... Digo eternas porque por mais que me esforço, ainda vejo
nelas as menininhas que corriam ao meu encontro todas as vezes que me
viam... Ah... Aqueles abraços
apertados... Elas nem faziam ideia o bem que me faziam. Que saudade!
Jamais
pensei que morasse em alguns corações de uma forma tão doce... Que alguém
fizesse questão de guardar um caderninho de alfabetização por tanto tempo... Ou
de fazer parte de das suas memórias de forma tão afetuosa...
E
no desenho da criança, que ela foi um dia, a demonstração de carinho que ainda
mora em seu coração...
No
trabalho de faculdade o agradecimento...
Deixamos
de existir quando as pessoas não se lembram mais da gente...
Sandra
e Fatima, vocês moram para sempre em meu coração também...