Para professores


Um bom livro
A começar do nível mais elementar de relações com o poder, a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder”.
 GNERRE, M. Linguagem, Escrita e Poder. São Paulo: Martins Fontes, 1991.




Inclusão: realidade ou mito
Uma espécie pode ser caracterizada pela suas semelhanças físicas, psicológicas e por seus hábitos e costumes. Esses aspectos a torna igual, entretanto, a variação deles faz com que cada indivíduo tenha características próprias e seja único no grupo a que pertence, tornando-se diferente.
Por isso, pode-se dizer que o homem é igual quanto à espécie, mas é diferente quanto à individualidade. É igual quanto as suas características genéticas... Mas é diferente quanto aos aspectos psicológicos, físicos, necessidades e habilidades. Habilidade compreendida como capacidade para executar atividades específicas. As diferenças não podem ser vistas como deficiência. A ausência de uma habilidade não pode mutilar todas as outras.
As aprendizagens também são diferentes, embora as crianças pareçam iguais, cada uma delas possui uma forma diferente de aprender. Há aquelas que possuem aprendizagem visual (aprendem vendo, observando); aquelas que possuem aprendizagem auditiva (aprendem ouvindo) e, ainda há aquelas com aprendizagem cinestésica (aprendem através do movimento, do tato, do cheiro e gosto).
A aprendizagem de um indivíduo se dá através das percepções: auditiva, visual, tátil, olfativa e gustativa. São essas percepções que desenvolvem a inteligência (faculdade de compreender). O fato de não possuir ativo a função de uma destas percepções não pode ser traduzido em incompetência completa do portador da mesma. A ausência de uma delas torna o indivíduo um portador de necessidades educacionais especiais e por isso, muitas vezes, é rotulado como incapaz e improdutivo. E, assim, é segregado como se possuísse alguma doença contagiosa. Por quê? Porque não se sabe conviver com as diferenças! E, ao excluí-lo atesta-se à incompetência dos ditos "normais" para compreendê-lo e respeitá-lo. Criam-se as barreiras mais absurdas possíveis, desde as de confusão conceitual e carência de material didático adequado à maior e mais cruel: a falta de ética humana. Será que os "normais" são tão perfeitos? Possuem todas as aptidões possíveis a um ser humano? Não, não possuem. Ninguém é perfeito. Em algum tipo de aprendizagem  possuem alguma habilidade que por mais que se esforcem apresentam dificuldade. Sendo assim, somos iguais e diferentes. O normal é ser diferente! São as diferenças individuais e diferentes maneiras de aprender que dão suma importância em se refletir sobre a inclusão. A verdadeira inclusão propõe, executa e avalia práticas pedagógicas capazes de atender com igualdade: ao surdo; cego; ouvinte que apresenta dificuldade para ler, para expressar-se na oralidade e na escrita; tem dificuldade para raciocinar e racionalizar; que tem problemas emocionais que não lhe permite concentrar-se; ao excluído devido à raça, condição social, etc.
A inclusão de surdos no ensino regular, por exemplo, tem causado muita polêmica. Alguns se recusam a aceitar a ideia de que a inclusão é um direito adquirido! Outros admitem o fato de forma passiva, continuam suas aulas ignorando-os e rotulando-os como deficientes e incapazes de aprender porque não ouvem. O surdo não é deficiente! O fato de não ouvir o torna diferente, não incapaz. Sua inteligência é tão desenvolvida quanto à de qualquer outra criança. Entretanto, se não ouvem devem ser respeitados em sua diferença em relação aos ouvintes. É evidente que a aprendizagem deles possui a barreira auditiva. A prática educativa, para eles, deve basear-se em recursos visuais: LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), desenhos, figuras e gestos naturais, entre outros ...
A prática pedagógica inclusiva evita que as diferenças se transformem em desigualdades educacionais ou em dificuldades para a aprendizagem e participação no convívio social. O sucesso profissional do surdo depende da integração e capacitação desenvolvida na escola e da luta pela conscientização do potencial produtivo dele.
É papel da sociedade e da escola, como parte dela, educar para conviver com as diferenças ... Tornar realidade a inclusão! Viver a inclusão é criar meios para que todos possam aprender juntos, respeitando a individualidade de cada um.
Para tanto, faz-se necessário remover as barreiras e quebrar paradigmas, assim como, refletir sobre as práticas pedagógicas e conceitos sociais. Todos os indivíduos são capazes de aprender e produzir. É preciso reaprender novas formas de ensinar.
Clarice Fernandes
Professora de Língua Portuguesa
Pós graduada em: Didática e Metodologia de Ensino
Psicopedagogia


Políticas públicas na educação.
                                          Clarice Fernandes
A educação no Brasil está longe de um atendimento igualitário à população. Haja vista os dados apresentados pelo IBGE (2010) cujos índices de analfabetismo são: 30,2 da população branca; 10,2 da população preta e 58,8 da população parda em relação ao total de habitantes do país de cada grupo. Estes dados denotam a necessidade de uma política educacional inclusiva no país. As ações governamentais foram um dos grandes entraves que influenciaram nesta desigualdade educacional da população brasileira. Para que mudanças ocorressem fez-se necessário a reflexão sobre como as políticas públicas poderiam intervir para promover avanços. O PNE (Plano Nacional de Educação)  pode ser considerado um passo na construção de uma escola cidadã. A partir dele, o planejamento das políticas públicas tem metas pré-estabelecidas para cumprir. E assim o governo se vê obrigado a disponibilizar verbas e executar programas que favoreçam o desenvolvimento educacional.
A expressão Governo refere-se à formação de grupos que se alternam no poder transitoriamente. É ele (governo) o responsável pela escolha, planejamento e execução de políticas públicas sociais com funções redistributivas e compensatórias pelo tempo que durar a gestão do grupo que o representa objetivando atender as necessidades da população. Suas ações devem visar o atendimento igualitário a todas as camadas da população. Porém, sabe-se que as desigualdades sociais são fruto de ações de governos que não priorizam inclusão social de todos os cidadãos aos bens e serviços gerados pela prática de uma organização de sociedade excludente e capitalista. Um dos direitos não respeitados é o direito à educação. No entanto, a educação é um direito assegurado a todo cidadão   pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ), independente de raça, cor, ou posição social.
A percepção de que havia necessidade de melhoria no atendimento da população em relação à educação fez com que o governo voltasse sua atenção para o planejamento de ações que visassem à oferta de um ensino de qualidade para todos. Por isso o governo, em conjunto com representantes da sociedade, trabalhou para a elaboração do recente  PNE 2011-2020 que prevê metas visando:
Meta 1: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos.
Meta 2: Criar mecanismos para o acompanhamento individual de cada estudante do ensino fundamental.
Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa etária
Meta 4: Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.
Meta 5: Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os 8 anos de idade.
Meta 6: Oferecer Educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica.
Meta 7: Atingir as médias nacionais para o Ideb já previstas no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
Meta 8: Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos, de modo a alcançar mínimo de 12 anos de estudo para as populações do campo,  região de menor escolaridade no país, e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.
Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.
Meta 10: Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à Educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
Meta 11: Duplicar as matrículas da Educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta.
Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na Educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta.
Meta 13: Elevar a qualidade da Educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de Educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores.
Meta 14: Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores.
Meta 15: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, que todos os professores da Educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
Meta 16: Formar 50% dos professores da Educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua área de atuação.
Meta 17: Valorizar o magistério público da Educação básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente.
Meta 18: Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de ensino.
Meta 19: Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar.
Meta 20: Ampliar progressivamente o investimento público em Educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

A aplicabilidade do PNE , na integra, parece buscar solução para amenizar as desigualdades geradas no desenrolar da história do país em relação a educação. Todas as ações previstas são fundamentais para o processo educacional e, ainda, algumas delas promovem a inclusão social e respeito às diferenças.
Os CACs (Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB ) são fundamentais no processo de implementação das metas do PNE em relação à aplicação dos recursos financeiros necessários para sua execução.  A função do Cacs é o acompanhamento e o controle social sobre a repartição, a transferência e a aplicação dos recursos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e também dos recursos destinados ao Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (Pnate). Para realizar sua função, ele busca informações e dados junto ao executivo local e outros órgãos competentes, analisando a prestação de contas que o ente executor (nesse caso, a prefeitura) lhe envia. Quem compõe esse conselho, representando o segmento ou o setor no qual atua, tem responsabilidade social importante e papel político fundamental para que os recursos destinados à educação sejam aplicados adequadamente, beneficiando os alunos em sua formação.
Nos municípios, esse conselho é composto por nove membros, no mínimo, sendo: dois representantes do poder executivo municipal, dos quais pelo menos um da secretaria municipal de educação ou órgão equivalente; um representante dos professores e um representante dos diretores das escolas públicas do ensino fundamental; um representante dos servidores das escolas públicas do ensino fundamental; dois representantes dos pais de alunos da educação básica pública; dois representantes dos estudantes da educação básica pública, um dos quais é indicado pela entidade de estudantes secundaristas; um representante do conselho municipal de educação, caso ele exista; um representante do conselho tutelar se houver.
Todos os Programas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) são suportes importantes para a construção de uma escola cidadã:  Programa Nacional de Alimentação Escolar;  Programas do Livro; Programa Dinheiro Direto na Escola; Programa Brasil Alfabetizado; Programa Nacional de Saúde do Escolar; Programa Nacional Biblioteca da Escola; Programas de Transporte do Escolar e   Escola Aberta.
A articulação prevista no PNE pode surtir grandes efeitos para acabar com o analfabetismo, promover o desenvolvimento científico e atendimento as necessidades educacionais de muitos cidadãos. A mobilização e envolvimento da sociedade podem colaborar muito nesse processo. Porém, é preciso que os recursos financeiros para a políticas educacionais sejam realmente aplicados em programas que visem corrigir os problemas elencados.
Não basta garantir matrícula: é preciso garantir o acesso ao saber.
Não basta garantir formação profissional ao professor: é preciso garantir qualidade nesta formação.
Não basta citar a “valorização profissional” do professor, em discursos que não serão colocados em prática. É preciso cumprir o que estabelece a Lei, para que os profissionais experientes não sejam atraídos por salários melhores em outros setores e permaneçam em atividade docente.
É necessária a compreensão e participação de todos no processo de discussão da qualidade de ensino ofertado pelas escolas. Faz-se necessário o levantamento de dados sobre os entraves que dificultam o desenvolvimento da apropriação do conhecimento pelos cidadãos. A participação efetiva da comunidade é fundamental para afastar gestores que não se disponibilizem em investir no maior capital social - o homem e de promover as mudanças que alavancam o conhecimento científico. É a partir das necessidades que se tem, e que não são iguais em todo país, que se pode buscar soluções viáveis a cada problemática apresentada.
Todos os aspectos citados no PNE são fundamentais. Porém em qualquer instituição, seja no âmbito escolar ou na administração pública em geral, em que o cargo for representado por homens que não tenham formação humana e competência técnica para administrar conflitos e promover mudanças, haverá dificuldades em sanar problemas gerados pelo mau uso de recursos públicos.
Certamente, a valorização profissional e o aporte de maiores recursos a educação são fatores relevantes para a melhoria da qualidade de ensino, mas o envolvimento dos sujeitos envolvidos no projeto de educação é  crucial para que as transformações e avanços na construção do conhecimento apresentem resultados em tempo hábil.
As diretrizes educacionais existentes, se cumpridas, resolveriam muitos problemas. Porém, sabe-se que há um distanciamento entre o que a Lei assegura e o que os gestores executam na prática.
É importante que os direitos assegurados sejam cumpridos, e isso já seria um grande avanço: tornar o discurso em prática!
Clarice Fernandes
Graduada em Letras
Especialista em Didática e Metodologia de Ensino
Especialista em Psicopedagogia
Texto (revisado) produzido durante o  CURSO DE COMPETÊNCIAS BÁSICAS – FNDE em  15/04/2012


Referências
Módulo Competências Básicas / Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - 3. ed., atual. – Brasília: MEC, Disponível em http://cursos.fnde.gov.br/mdl07/file.php/11921/mcbEstudos_27setembro_.pdf  Acesso 01 abr 2012
Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020. Disponível em http://www.camara.gov.br/sileg/integras/831421.pdf Acesso 25 mar 2012
IBGE. Síntese de Indicadores Sociais - Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira, 2010. Disponivel em  http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/SIS_2010.pdf Acesso 15 mar 2012.





A apropriação do discurso via escrita de artigo de opinião na escola.
Clarice Fernandes
Professora PDE 2010
Marcia Sipavicius Seide
Orientadora – UNIOESTE
Campus Marechal Rondon

RESUMO: O artigo trata da produção do gênero discursivo artigo de opinião em atividades escolares.  Ele apresenta uma análise do  ponto de vista do gênero discursivo  e textual  de um artigo de opinião vencedor das Olimpíadas de Língua Portuguesa – 2010. Também se busca verificar o contexto de produção, formato do gênero e estilo linguistico; assim como os recursos  argumentativos utilizados  e a estrutura construída para que o texto caracterize-se como artigo de opinião. Faz-se ainda uma tentativa de leitura da intencionalidade da autora ao produzir o artigo.

PALAVRA-CHAVE: Gênero discursivo; coesão textual; argumentatividade.

O ensino de língua  portuguesa renova-se constantemente. Os autores das últimas  décadas  têm influenciado essa nova perspectiva da língua nas práticas escolares, assim como em suas diretrizes. Fala-se muito em apropriação do discurso pelos sujeitos escolares (alunos). Essa apropriação busca fundamentar-se numa perspectiva da língua pensada conforme o conceito sociointeracionista e as orientações das diretrizes da língua portuguesa.

 [...]o ensino de língua materna se justifica prioritariamente pelo objetivo de desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua (falante,escritor/ouvinte,leitor), isto é, a capacidade do usuário de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação. (TRAVAGLIA, 2009, p.17)

Esse emprego adequado da língua é construído por meio do discurso. O discurso é mediado por enunciados (tudo que ouvimos e reproduzimos para transmitir uma idéia), que promovam a enunciação (maneira como interagimos  com o enunciado).

O emprego de uma língua efetua-se em forma de enunciados*(orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo de atividade humana. Esses enunciados  refletem as condições especificas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo de linguagem, ou seja, pela seleção de recursos lexicais fraseológicos e gramaticais da língua, mas acima de tudo, por sua construção composicional. (BAKHTIN, 2009, p.261)

Sabe-se que,

Há uma barreira histórico-cultural gigantesca a ser desconstruída, ao mesmo tempo em que se constrói, em seu lugar, uma larga avenida de mão dupla que conduza da escola ao mundo e que traga do mundo para a escola aquilo que de mais significativo haja nos dois mundos, até que eles possam ser apenas um. (FERRAREZI JUNIOR, 2008, p.248)

No entanto, existe um consenso para que essas barreiras sejam ultrapassadas, uma vez que, segundo MARCUSCHI (2008.p.90), “Operar com textos é uma forma de se inserir em uma cultura e dominar uma língua.”
O domínio da língua é efetivo quando seus falantes são capazes de compreender o meio em que vivem,  interagir nele e a medida do possível, reagir nele transformando-o. Essa compreensão se dá quando o processo de aprendizagem é construído considerando tanto os conteúdos básicos da disciplina quanto os que são fruto das relações sociais. E, é por isso que as diretrizes para o ensino da língua asseguram,

[…] as disciplinas da Educação Básica terão, em seus conteúdos estruturantes, os campos de estudo que as identificam como conhecimento histórico. Dos conteúdos estruturantes organizam-se os conteúdos básicos a serem trabalhados por série, compostos tanto pelos assuntos mais estáveis e permanentes da disciplina quanto pelos que se apresentam em função do movimento histórico e das atuais relações sociais. Esses conteúdos, articulados entre si e fundamentados nas respectivas orientações teórico-metodológicas, farão parte da proposta pedagógica curricular das escolas. (PARANÁ, 2008 , p.26)

A escola deve promover a apropriação do discurso enquanto prática social para que o sujeito insira-se na sociedade e exerça sua cidadania. Essa apropriação se efetiva na prática da leitura, oralidade e escrita. No entanto, as atividades de produção de texto esbarram na dificuldade de organização textual e argumentação. Um gênero textual representativo dessa dificuldade, por exemplo, é o artigo de opinião. A argumentação, neste gênero,  base da persuasão, é resultado de um raciocínio lógico. Devido a isso, assumir o papel de autor, frente a uma mensagem a ser construída e transmitida, para alguns alunos, é um verdadeiro dilema. Tais dificuldades podem ser sanadas mais facilmente, quando o trabalho com produção de textos é pautado nas questões de gênero textual (estrutura +enunciado). O texto , materialização do gênero discursivo, apresenta uma estrutura de construção conforme sua intencionalidade. E isso precisa ser compreendido pelo aluno para que ele possa apropriar-se da língua enquanto discurso.
Porém, essa tarefa pode tornar-se uma atividade agradável. Para tanto, o professor deve conduzir o aluno à compreensão da gênero textual, identificação dos elementos do gênero em textos já produzidos, busca de conhecimento sobre o tema para que, somente após trilhar estas estratégias, assumir o papel de autor, ou seja, emissor de uma mensagem codificada verbalmente transparecendo sua opinião.
Os textos vencedores das olimpíadas de Língua Portuguesa são exemplo disso. Os professores que inscrevem seus alunos para participarem dela recebem um material didático para ser utilizado antes da efetiva produção de texto. Este material fornece ao professor as estratégias para o ensino  do gênero textual, assim como exemplos de textos produzidos para que o aluno faça leitura e estudo prévio. Nele são apresentados aos alunos as características e recursos utilizados para tal produção. Somente após a leitura e análise de textos é que os alunos são conduzidos a construir as ideias sobre as quais trabalharão. Para que o aluno construa as ideias, as estratégias de trabalho prevêem: entrevistas, leituras, análises de materiais disponíveis e debates sobre situações locais para que, depois, assumam o papel de autores de textos efetivamente.
Conforme, MARCUSCHI, (2008.p.121), “ a coerência  é, sobretudo, uma relação de sentido que se manifesta entre os enunciados, em geral de maneira global e não localizada. Na verdade, a coerência providencia a continuidade de sentido no texto e a ligação dos próprios tópicos discursivos.”
O texto “A transposição do rio São Francisco: sonho ou pesadelo?” da aluna: Hildegna Moura da Costa (2010) é uma publicação que exemplifica bem o quanto o aluno torna-se capaz de assumir o discurso (transmitindo com coesão e coerência sua opinião sobre um fato) a partir do uso de estratégias adequadas. O texto dela organiza-se em cinco parágrafos, estruturados numa sequência de raciocínio em que ela descreve a problemática sobre a qual vai opinar, emite sua opinião, delineia argumentos coerentes e encerra sugerindo a solução, de seu ponto de vista. É importante ressaltar que, conforme se pode observar, a autora estabelece relação entre os períodos utilizando-se de mecanismos indicadores de causa conseqüência, finalidade, esclarecimento e de conclusão. Outro recurso utilizado é a construção de orações alternativas pelas quais o fato sobre o qual é emitida a opinião é caracterizado discursivamente.
Pois,

Relações de coerência são relações de sentido e se estabelecem de várias maneiras. Por exemplo, na sequência de dois enunciados, sendo que um deles pode ser tomado como causa e outro como conseqüência. Ou então um é interpretado em função do outro. (MARCUSCHI, 2008.p.121)

No primeiro parágrafo, na descrição do tema, ela aponta para uma problemática sobre a qual há uma preocupação da população da região em que vive: “a transposição do Rio São Francisco e suas conseqüências para a população...”. Já no primeiro parágrafo o tema é caracterizado de modo polêmico: “Um fato que nos últimos dias vem dividindo opiniões é o projeto de transposição do rio São Francisco, que ora se mostra como um benefício, ora se apresenta como algo maléfico para a população ribeirinha.” Nota-se que, enquanto a primeira oração alternativa faz uma caracterização positiva da transposição do rio São Francisco, a segunda fornece uma caracterização negativa a qual será retomada e defendida ao longo do texto”. Ambas as caracterizações são retomadas mais adiante, deixando claro o assunto sobre o qual vai falar. Ela apresenta a problemática fazendo a relação de causa do expresso no período anterior da expressão é por meio dessa: “(...). É por meio dessa visão que se pode questionar se estamos diante da realização de um sonho ou no meio de um grande pesadelo."
No parágrafo seguinte, a autora inicia relatando uma opinião coletiva a respeito das conseqüências da mudança de percurso do rio, a visão dos moradores que terão suas casas inundadas e o efeito da transposição ao ecossistema. A aluna não se limita a informar uma opinião, ela a  justifica mediante a expressão uma vez que, apontado a conseqüência da transposição para os moradores: “(...), uma visão de inúmeros moradores dessa localidade o projeto em foco modificará a vida de diversos agricultores, uma vez que estes terão suas terras e casas inundadas e o ecossistema à margem do rio será afetado.”. Neste enunciado ela faz uma construção semântica de significados estratégicos para que continue sua exposição das conseqüências da ação do homem sobre o meio ambiente em que ela está inserida sem perder de vista a linha de raciocínio a que se propõe: defender a  idéia de que há necessidade de criar outros meios de resolver a problemática citada por ela.
Essas conseqüências transformam-se, na oração, em causas  para outras conseqüências, também negativas: “É por essa perspectiva que o São Francisco em transposição irá transpor também a vida de muitos habitantes desse local.” O pronome “essa” remete o leitor ao período composto anterior e evita a repetição dos argumentos  já citados. Mais uma vez, as afirmações feitas são justificadas, neste caso introduz a justificativa a conjunção conclusiva pois: “... pois terá que mudar os costumes, a organização comunitária e, principalmente, as práticas da agricultura.”. Outra conseqüência negativa é então acrescentada numa oração coordenada aditiva: “Além do mais, os lucros e vantagens só surtirão efeito para os latifundiários que possuem condições para investimentos, o que possibilitará usufruir das águas de maneira eficaz e lucrativa.” No parágrafo, a autora revela suas intenções argumentativas e sua intencionalidade: convencer o seu interlocutor de que não há reais benefícios para aqueles que vivem na miséria com a transposição do rio.
Os argumentos da autora fundamentam-se numa visão negativa que ela tem da política (considera uma estratégia política que não tem como fim o bem estar social): “Não adianta haver tanta água sem poder desfrutá-la”. Ela reforça, em seus argumentos, a necessidade de projetos que amenizem a miséria do povo. A expressão por isso que inicia o período composto seguinte que reforça seu argumento do efeito negativo interpelado por uma oração adjetiva “enquanto moradora da comunidade de Angicos”. Esta caracterização que a autora faz de si mesma é por si argumentativa, pois ela se coloca como parte interessada, haja vista fazer parte da comunidade que será atingida e que tem conhecimento do assunto, são informações que dão credibilidade a suas palavras e que predispõem o leitor a crer em tudo que ela dirá na sequência.
Por isso mesmo, nesta parte do texto, a autora emite sua opinião de forma direta utilizando-se de verbos em 1ª pessoa do singular, no tempo presente, a fim de dar maior força ao enunciado contemporizando-o: “considero desnecessária a transposição do rio São Francisco para o lugar onde eu vivo, por parecer  mais uma estratégia política do que uma forma de garantir a vida daqueles que se encontram em circunstâncias precárias”. Ao redigir em 1ª pessoa ela se coloca como sujeito que interage em seu discurso e se  compromete com o que expressa via alocução. O período seguinte é composto por subordinação, iniciado pela conjunção por isso (conjunção causal mais - pronome demonstrativo isso): Por isso que, Não adianta ver tanta água sem poder desfrutá-la”. O pronome demonstrativo retoma a idéia inicial de que a causa da transposição não É favorável para os moradores, posicionamento justificado pelo não aproveitamento da água após da transposição e os transtornos gerados aos moradores da região sem retornos imediatos. Porém, ainda no mesmo parágrafo, ela já inicia a ideia de apontar alternativas para solucionar a falta de perspectiva de vida digna do nordestino: O que importa são projetos que procurem amenizar a miséria do povo de Angicos, de José da Penha, do Nordeste...”. E mais ainda no final do parágrafo ela inclui todo o país na problemática da miséria que assola sua região ao inserir a frase nominal através do “enfim , de todo o Brasil.”. É evidente que ao aproximar o leitor da problemática ao usar a expressão todo Brasil ela atribui relevância do tema a ele (leitor) para que ele sinta que vale a pena dispensar sua atenção para ler o texto.
Para retomar o tema e garantir a coesão seqüencial, a autora recorre ao uso do “assim”que introduz uma conclusão ao seu raciocínio: “Assim,  o projeto de integração do São Francisco em pouco beneficiará a população angiquense; pelo contrário, afetará em muito a vida daqueles. que tanto trabalharam para se estabelecer em seu hábitat” O recurso utilizado retoma seus argumentos anteriores e as características negativas da transposição do rio, inclusive, são enfatizadas pela expressão “ao contrário” o que dá mais força a seus argumentos. Com o mesmo propósito, ela tenta sensibilizar o leitor ao enfatizar “que tanto trabalharam para se estabelecer em seu hábitat”. A palavra tanto enfatiza o empenho daqueles que vivem na região para manterem-se no local. No período composto seguinte, ela retoma o uso da expressão tanto (no feminino) para dar ideia da intensidade da água que será disponibilizada sem ser útil a população. A sequência textual induz o leitor a compreender a necessidade de mudanças na vida do homem urbano e da região ribeirinha com a oração coordenada substantiva: “Não importa cobrir o semiárido com tanta água, o que interessa é o progresso e a garantia de vida em abundância para todos os habitantes, sejam do campo ou da cidade.”. Nota-se também outro recurso argumentativo na oração subordinada apositiva: “[...]sejam do campo ou da cidade.” Por meio dela a autora não só esclarece a quais habitantes ela se refere, mas coloca a questão de modo abrangente incluindo a todos os habitantes da região, tornando a causa universal e de interesse de todos.
Em sua conclusão, a autora reforça a opinião de que não basta transpor o rio para solucionar o problema da miséria e sugere o resgate da cidadania participativa para reduzir as disparidades advindas do setor econômico: É necessário, portanto, acordar e fazer valer os direitos, os deveres e os valores de cada um de nós, procurando reduzir as disparidades advindas do campo econômico, político e social.” Nele observa-se que ela utiliza das conjunções conclusivas assimportanto para encerrar as idéias construídas através da suposição feita no titulo: “sonho ou pesadelo?”.  A conjunção portanto encerra um sentido de conclusão lógica diante dos argumentos relatados em referência ao fato: “ Não estamos sonhando, estamos diante de um pesadelo.”.
A autora faz a construção de seu texto fornecendo inferências ao leitor para  que conheça a realidade em que ela está inserida (1º e 2º parágrafos). Ela aproveita todos os recursos que o gênero  discursivo permite para assegurar que o interlocutor compreenda a situação e como estão sendo construídos os discursos sociais sobre o tema do qual está falando. Já no segundo parágrafo, em relação aos aspectos positivos, para dar credibilidade ao seu discurso, ela cita a Fundação Joaquim Nabuco (estudo que a fundação fez) e o que pensam alguns agricultores sobre as consequências da transposição enquanto ainda descreve a problemática. No terceiro parágrafo ela continua retratando a opinião daqueles que vêem os aspectos negativos da transposição do rio. Portanto, a autora amarra seus argumentos aos outros discursos já construídos oralmente ou por escritos pelos envolvidos.
Nesses parágrafos é possível perceber que a autora ancora seu texto no contexto situacional:

Quando se fala em contexto situacional, não se deve com isso entender a situação física ou entorno físico, empírico e imediato, mas a contextualização em sentido amplo, envolvendo desde as condições imediatas até a contextualização cognitiva, os enquadres sociais, culturais, históricos e todos os demais que porventura possam estar em questão num dado momento discursivo. (MARCUSCHI,2008,p.87)

No quarto parágrafo a voz do autor impera em “...considero desnecessária..”. Ela assume sua opinião e expressa colocando-se explicitamente no texto através dos verbos em 1ª pessoa do singular: “considero”, “vivo”. Embora ela inicie de forma impessoal (3ª pessoa do singular), porém inclui-se como parte integrante na busca da solução sugerida ao usar a expressão “cada um de nós”. Ao que parece ela tenta deixar transparecer uma intencionalidade de convencimento do leitor para a causa que defende, quando além de usar  verbos em 1ª pessoa, usa a referência “cada um de nós”.
Porém, lembrando que,

A intencionalidade diz respeito ao que os produtores do texto pretendiam, tinham em mente ou queriam que eu fizesse com aquilo. Já a aceitabilidade diz respeito a como eu reajo e como eu aceito, considero ou me engajo nas intenções pretendidas.
Com base na intencionalidade, costuma-se dizer que um ato de fala, um enunciado, um texto são produzidos com um objetivo, uma finalidade que deve  ser captada pelo leitor. (MARCUSCHI,2008.p.126)

Diante da estrutura deste texto, produzida por aluno de ensino médio, constata-se que o ensino da Língua Portuguesa, nas escolas públicas, está se constituindo numa prática capaz de formar homens com habilidade de ler e interpretar discursos socialmente produzidos. E não só isso, mas também, compreender e interagir na realidade em que vive produzindo discurso que represente seu pensamento interpelando o interlocutor com clareza e construindo novos sentidos. Pois, de acordo com FERRAREZI JUNIOR (2008, p.22), “(...) os sentidos são sempre construídos em função do conjunto de informações culturais do falante e de sua comunidade...”
Um aluno que tem uma capacidade discursiva desta, cursando apenas o ensino médio, permite uma avaliação que credencia a escola como formadora de homens que estão se apropriando do discurso como pratica social. Isto por que, um indivíduo com tais habilidades, é capaz de ler não só as palavras no discurso verbal, mas também a realidade geográfica e humana do espaço em que vive, assim como o conteúdo implícito nas ações políticas atuais. Por conseqüência terá maior capacidade de interagir e transformar o meio em que vive.
Portanto, é de fundamental importância que a escola possa nortear suas práticas pedagógicas em teorias que busquem compreender os conceitos de linguagem afim de seus sujeitos (alunos) possam vencer as barreiras criadas pela língua para exercer sua cidadania apropriando do discurso, tanto oral quanto escrito.


Referências:

MEC/CNPEC. Pontos de vista – Caderno do professor. São Paulo:Cenpec, 2010.Coleção da Olimpíada.Artigo de Opinião. Disponível em
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção Textual, análise de gêneros e Compreensão. São Paulo:Parábola Editorial,2008.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos, Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática.São Paulo, Cortez, 2009.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal,(tradução Paulo Bezerra).São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FERRAREZI JUNIOR, Celso. Semântica para a educação básica. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.



 Internetês x letramento
                                     Clarice  Fernandes

Nota-se que as recentes orientações em relação ao ensino da Língua Portuguesa objetivam o letramento do aluno. Kleiman (1995, p. 19, in SOARES, 2002, p, 144,) assim define o termo letramento  “... conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”.  Enquanto cidadão, o aluno se envolve em práticas sociais que usam a escrita e este envolvimento compreende, também, o uso do internetês.
O internetês surgiu da  necessidade de escrever de uma forma mais ágil ao digitar textos nas redes sociais na web. Nesta forma de linguagem a regra é passar a idéia com o mínimo de esforço possível, abreviando palavras, suprimindo vogais, concatenando letras e números, substituindo acentos por letras.... Porém, para que o aluno faça uso desta linguagem no ambiente adequado, a prática pedagógica deve estar centrada nos gêneros textuais, pois a partir deles o aluno entende que cada situação de comunicação exige gêneros específicos de linguagem, devido aos seus objetivos específicos. Sendo assim,  a prática discursiva do aluno adequará o gênero  à função a que se destina e ele não usará o internetês fora do contexto das redes sociais, pois compreenderá que o estilo de linguagem não é adequado em situação fora de tal condição. Todavia,  a partir do interesse deles pela tecnologia digital e  redes sociais pode-se fazer o despertar para a importância do  letramento digital. Uma vez que

O Letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não-verbais, como imagens e desenhos, se compararmos às formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela, também digital. (XAVIER,2012, p.2)

Na atualidade, é papel da escola uma formação que contemple o uso da língua em todas as suas esferas de circulação e as  mídias digitais somam-se nestas  esferas. A tecnologia, a cada dia,  cria novos meios pelos quais se dá a comunicação. O ensino da língua deve adequar-se a estas mudanças e desenvolver nos alunos a capacidade de empregá-los durante a prática discursiva.

O discurso é visto como qualquer atividade produtora de efeitos de sentido entre interlocutores, portanto qualquer atividade comunicativo ( não apenas no sentido de transmissão de informação, mas também  no sentido de interação), englobando os enunciados produzidos pelos interlocutores e o processo de sua enunciação, que é regulado por uma exterioridade sócio-histórica e ideológica que determina as regularidades linguisiticas e seu uso, sua função. (TRAVAGLIA, 2009, p.68)

A metodologia empregada pelo professor de Língua Portuguesa deve selecionar práticas que envolvam todas as formas de emprego da língua situando-as ao seu contexto. Isto porque

 [...] a situacionalidade é uma forma particular  de o texto se adequar tanto a seus contextos como a seus usuários. Se um texto não cumprir os requisitos de situacionalidade,  não poderá se “ancorar” em contextos de interpretação possíveis, o que o torna pouco proveitoso.  ( MARCUSCHI,2008, p. 129)

Por isso que o letramento do aluno se dará à medida que ele desenvolver sua capacidade de interagir em todos os meios pelos quais se processam a comunicação. Para tanto deve haver o entendimento de que  além de ser alfabetizado, ele precisa obter o letramento. Porém, deixando claro que

(...) a distinção entre o que mais propriamente se denomina letramento, de que são muitas as facetas – imersão das crianças na cultura escrita, participação em experiências variadas com a leitura e a escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material escrito – e o que é propriamente a alfabetização, de que também são muitas as facetas – consciência fonológica e fonêmica, identificação das relações fonema–grafema, habilidades de codificação e decodificação da língua escrita, conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita. (SOARES, 2003, p.11)

Entende-se assim que a apropriação do discurso, enquanto pratica social, decorre da imersão da criança na cultura escrita, assim como da codificação e decodificação da língua escrita durante a tomada de consciência fonológica e fonêmica das relações fonema-grafema.
Em outras palavras, o aluno deve ser capaz de ler o explicito (identificando informações contidas no texto verbal ou não-verbal) e o implícito (conteúdo contido nas entrelinhas do texto); escrever ( textos em que consiga comunicar-se com seu interlocutor com clareza fornecendo as informações necessárias conforme a materialização do gênero escolhido); adequar o gênero textual ( durante a prática discursiva) ao contexto, composição, meio de circulação e função; e Interagir com os diversos meios pelo qual a linguagem verbal e não-verbal se constitui (mídias impressas,  digitais...).
E nesse contexto, é possível concluir que  o uso do internetês pelo aluno (situado em seu contexto de interação entre interlocutores virtuais) somar-se-á ao aprendizado sobre a Língua Portuguesa e suas variedades linguisticas.


REFERÊNCIAS
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção Textual, análise de gêneros e Compreensão. São Paulo:Parábola Editorial, 2008.
SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas.2003. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf
SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935.pdf Acesso  20 abr 2012.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática.São Paulo, Cortez, 2009.
XAVIER. Antonio Carlos dos Santos. LETRAMENTO DIGITAL E ENSINO. Disponível em http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Letramento%20digital%20e%20ensino.pdf Acesso 01 jun 2012.



vídeo:  Do sonho aos ares 

 http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=17623 (Acesso em 01 mar 2011.)


A tecnologia avança a passos largos. Prova disso é a rapidez com que o sonho de voar, de Santos Dumont, tornou-se em realidade. No decorrer de apenas um século, o homem projeta para a realidade um sonho até então impossível: invadir os ares e, por ele, qual pássaros voar. A compreensão da dimensão da grandiosidade deste evento exemplifica o quão real são as possibilidades de melhoria na qualidade daquilo que se ensina.
Estes avanços são conquistas também nossas! Estes grandes inventores estiveram sentados a frente de educadores que lhes ensinaram a sonhar com eles.
A educação fomenta os avanços, mas, também, se influencia por eles. A informática evoluiu num processo muito mais acelerado que a aviação e a ela incorporou-se gerenciando comandos e informações que possibilitaram à aviação novas descobertas para facilitar o desempenho e segurança dos vôos. Entre o sonho solitário de voar, de Dumont, e a conquista dos homens, concretizada na capacidade de voar, está a incansável busca por vencer obstáculos e cruzar novos horizontes.
Assim como,  a aviação influenciou a vida diminuindo distância, devido a rapidez com que se pode ir de um espaço geográfico a outro, a informática também, num processo muito mais ágil, acelerou o encontro do homem com o conhecimento.
Enquanto a aviação conduz o homem fisicamente a pontos longínquos, a informática traz o mundo até ele, através da web, onde quer que esteja, e lhe permite conhecer realidades das quais ele não possa aproximar-se fisicamente.
E, diante de tal realidade, o ensino e a aprendizagem se expandem, muitas vezes sem tutorias. Ser autodidata, hoje, é uma realidade sem fronteiras.
Toda essa tecnologia desenvolvida pode ser um instrumento a mais a serviço da educação e tal qual Santos Dumont, podemos alçar novos voos, sonhar novos sonhos e tornar nossa prática educativa mais atraente e condizente com a atualidade.
Fugir da tecnologia é como parar em meio a uma pista onde todos os carros estão em constante movimento. Ela está presente em todas as circunstâncias da vida do homem: no controle da conta bancária, nas compras, na emissão de documentos, nos aparelhos eletrodomésticos, na constatação do inicio da vida e desenvolvimento dela durante a gestação, no controle de doenças, no controle de qualidade de alimentos, na navegação, na busca e construção do conhecimento...
Clarice Fernandes
Professora de Língua Portuguesa
Pós graduada em:
Didática e Metodologia de Ensino
Psicopedagogia


Um comentário:

  1. Parabéns! Seus textos são maravilhosos. Além disso, as postagens que faz, de textos de outros autores, também são muito bem escolhidas! Gostei muito de me deparar com seu blog... Também sou professora e, a partir de agora, estarei sempre visitando essa sua "casa"... Até mais.

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