CRÔNICAS

Faleceu ontem a pessoa que atrapalhava sua vida...
                                     Luís Fernando Veríssimo
Um dia, quando os funcionários chegaram para trabalhar, encontraram na portaria um cartaz enorme, no qual estava escrito:
"Faleceu ontem a pessoa que atrapalhava sua vida na Empresa. Você está convidado para o velório na quadra de esportes".
No início, todos se entristeceram com a morte de alguém, mas depois de algum tempo, ficaram curiosos para saber quem estava atrapalhando sua vida e bloqueando seu crescimento na empresa. A agitação na quadra de esportes era tão grande, que foi preciso chamar os seguranças para organizar a fila do velório. Conforme as pessoas iam se aproximando do caixão, a excitação aumentava:
- Quem será que estava atrapalhando o meu progresso ?
- Ainda bem que esse infeliz morreu !
Um a um, os funcionários, agitados, se aproximavam do caixão, olhavam pelo visor do caixão a fim de reconhecer o defunto, engoliam em seco e saiam de cabeça abaixada, sem nada falar uns com os outros. Ficavam no mais absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma e dirigiam-se para suas salas. Todos, muito curiosos mantinham-se na fila até chegar a sua vez de verificar quem estava no caixão e que tinha atrapalhado tanto a cada um deles.
A pergunta ecoava na mente de todos: "Quem está nesse caixão"?
No visor do caixão havia um espelho e cada um via a si mesmo... Só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento: VOCÊ MESMO! Você é a única pessoa que pode fazer a revolução de sua vida. Você é a única pessoa que pode prejudicar a sua vida. Você é a única pessoa que pode ajudar a si mesmo. "SUA VIDA NÃO MUDA QUANDO SEU CHEFE MUDA, QUANDO SUA EMPRESA MUDA, QUANDO SEUS PAIS MUDAM, QUANDO SEU(SUA) NAMORADO(A) MUDA. SUA VIDA MUDA... QUANDO VOCÊ MUDA! VOCÊ É O ÚNICO RESPONSÁVEL POR ELA."
O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos e seus atos. A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença. A vida muda, quando "você muda".
           Disponível em  http://pensador.uol.com.br/cronicas_de_luis_fernando_verissimo/ Acesso 08 abr 2012.



Aprenda a chamar a polícia...
                          Luís Fernando Veríssimo
Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro. Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranqüilamente.
Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço.
Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa.
Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Um minuto depois, liguei de novo e disse com a voz calma:
— Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!
Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate , uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo.
Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.
No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse:
— Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão.
Eu respondi:
Pensei que tivesse dito que não havia ninguém.
Disponìvel em: http://pensador.uol.com.br/cronicas_de_luis_fernando_verissimo/  Acesso 10 abr 2012.


Agradando a gregos e troianos
                    Giovanna Scalabrini Antunes
Moro em Maringá praticamente desde que nasci e poderia dizer que cidade mais bela não há (limpa, arborizada, poucos crimes, muitos empregos...), não fosse pela rodoviária velha maldemolida. Há um tempo atrás a prefeitura ordenou a demolição, pois o prédio estava condenado, mas os funcionários pararam o serviço na metade (por questões políticas, quem sabe...).
Reza a lenda que em um belo dia na prefeitura um vereador iniciou a seguinte discussão:
— Senhor prefeito, acredito que aquela rodoviária não há de servir para mais nada, tanto que fiz uma pesquisa – disse o homem – e tivemos um resultado curioso.
Pegou um papel em seu bolso, desdobrou cuidadosamente e entregou ao seu superior, que falou:
— 50% da população concorda com a demolição e... 50% não?
— Exatamente.
— É complicado. Tenho que fazer alguma coisa para agradar esse povo, senão...– constatou o prefeito. — Alguém tem alguma sugestão?
Um silêncio desconfortável instalou-se na sala de reuniões. Muitos daqueles que lá se encontravam pensaram (mas não falaram) nas mais nobres ideias: “Podemos conversar com o síndico”, “É melhor se entender com o juiz”. Foi quando uma misteriosa voz surgiu ao fundo da sala.
— Licença – era o faxineiro. — Eu tenho uma proposta.
O senhor largou a vassoura de lado e aproximou-se dos políticos.
— Já que é o único a ter alguma ideia, diga senhor...
— José.
— Diga, senhor José.
— Pois bem – pigarreou, sentindo-se importante. — Já que metade da população quer que destrua a rodoviária e a outra metade não... Destrói só metade dela, uai!  Assim todo mundo fica contente.
Se o prefeito decidiu pôr em prática a ideia do humilde faxineiro, ninguém sabe...Só sabemos que enquanto ele não der segundas ordens, continuaremos com uma rodoviária demolida pela metade “embelezando” nossa cidade.
                Disponível em http://www.escrevendo.cenpec.org.br/images/stories/publico/noticias/20101201cronica.pdf Acesso  10 abr 2012.


Distante dos olhos... e perto do coração?
                                      Ana Laíse Rocha Ribeiro
Não se pode saber se é cômico ou trágico.
Para começar pelo nome, nome de lugar não deveria ser no diminutivo. Imagine você, se Brasil fosse Brasilzinho, o seu povo não seria heroico, bravo, seria só um povinho. E, se São Paulo fosse São Paulinho, não seria a quinta maior cidade do mundo, seria apenas uma cidadezinha qualquer.
“O que há, pois, num nome? Uma rosa com outro nome não teria igual perfume?”
Shakespeare... será que um nome é só um nome?
Um nome às vezes pode dizer tudo, veja só... Alphaville... ph... dois L... a primeira letra do alfabeto grego. Não é chique?
Pois é, Jardim Rosinha. Rosinha? Não poderia ser simplesmente Rosa, com toda a sua beleza e esplendor?
Para ir ao lugar onde eu moro é preciso passar por uma rodovia. Pense uma rodovia! É uma estrada para rodar!
Tão... Tão... Tão distante. Distante do centro da cidade, dos shoppings, das baladas... Dos meus amigos, da minha avó!
É preciso atravessar outro bairro para chegar até lá, um dos acessos ao meu bairro é a estrada de Pirapora. Pense... Pirapora! É de pirar só de pensar. Chácaras abandonadas de um lado, mato do outro. A qualquer momento do dia ou da noite você pode se deparar com animais pastando e revirando os lixos jogados pelas pessoas. É, animais: cavalos, vacas! Por que o espanto? Ele é tão... tão distante que o asfalto só chegou em dezembro do ano passado. Temos um mercadinho: os Irmãos Unidos, que mostra no nome que as famílias se unem para progredirem. Uma pizzaria: Big Bordas – não é só o centro que importa, as beiradas também. Há uma série de pequenos comércios, grandes conquistas, que vão passando de pai para filho. Há uma rua com nome de presidente: Getúlio Vargas. Foi o presidente que mais tempo governou o Brasil, e instituiu o salário mínimo. Salário mínimo! Que nome! Tantas pessoas conseguem tanto com ele. O mínimo que poderia ter nesta rua é uma casa, onde eu moro. Mas é claro que há outras! Depois do asfalto tudo tem começado a melhorar.
Mas não importa a casa, se é do sonho ou não. Importa é que ela está tão... tão perto do amor, do carinho, do apoio, da compreensão, da minha família. Um irmão que quase me enlouquece, me fazendo ver o mesmo DVD diversas vezes, mas que com um sorriso me faz esquecer todos os problemas. Uma mãe que por trabalhar demais às vezes acaba sendo tão... tão estressada, mas que com um abraço resolve tudo. Um padrasto que é tão... tão trabalhador que quase não o vejo.
Não importa se você está em uma cidadezinha, em um bairrozinho, se você estuda em uma escolinha, ou se trabalha em uma empresazinha. Faça o mínimo ser o máximo fazendo com o coração.
Ah!... mas nem tudo está perdido, quando você está tão... tão distante, você pode usar o celular. Socorro! O celular não tem sinal.
             Disponível em  http://www.escrevendo.cenpec.org.br/images/stories/publico/noticias/20101201cronica.pdf Acesso 08 abr 2012.